Filme foi precedido por bate-papo com Hugo Prata, diretor do longa-metragem
Na noite deste sábado (18), o Cine Penedo exibiu o longa-metragem “Ângela”, do cineasta Hugo Prata, que relata a história real do feminicídio da socialite carioca Ângela Diniz pelo seu então namorado, o empresário Raul “Doca” Street. Antes da exibição, os espectadores puderam levantar questionamentos ao diretor do filme, em um bate papo promovido pelo 13º Circuito Penedo de Cinema.
Segundo o cineasta, o desejo de falar sobre o assassinato ocorrido em 1976 veio justamente por não existir nenhum filme a respeito, mesmo com o crime tendo chocado o país e mobilizado diversas causas a respeito do crime de feminicídio, que, à época, ainda não tinha esse nome.
“Quando eu li um pouco a respeito do caso, uma das primeiras coisas que fiz foi buscar um filme que contasse o que aconteceu, e o choque foi imenso quando vi que ainda não existia algo assim. E depois de anos de trabalho, agora tem”, declarou o cineasta.
Além de Hugo Prata, o bate papo também contou com a presença da equipe de “Tia Virgínia”, representada pelo diretor Fabio Meira, a produtora Janaina Guerra e os atores Antonio Pitanga e Daniela Fontan. Como ambos os filmes retratam figuras femininas consideradas “à frente de seu tempo”, o bate-papo percorreu temáticas como empoderamento feminino e os espaços sociais para os quais as mulheres são designadas desde o nascimento.
Logo após a roda de conversa, o longa foi exibido para as mais de 150 pessoas presentes no Cine Penedo. A narrativa gira em torno dos quatro meses de relacionamento entre Angela Diniz e Doca Street, abordando também os conflitos internos da personagem, como a tristeza por ter perdido a guarda dos três filhos e o peso do julgamento social por não querer viver de forma submissa a um homem.
Nas últimas cenas do filme, é mostrado o assassinato de Angela por Doca, com suas últimas palavras sendo “eu não sou sua”, ao que ele responde “se você não for minha, não vai ser de mais ninguém”. O longa é finalizado com um breve histórico do que se passou após o feminicídio: Doca Street recebeu apenas dois anos de prisão, pois seus advogados usaram como tese a “legítima defesa da honra”.
Contudo, após pressão social de diversos movimentos pela defesa e direitos das mulheres, em principal o “quem ama, não mata”, a sentença foi revisada e o assassino foi condenado a 15 anos em regime fechado.
De acordo com Hugo Prata, o foco dado, na narrativa, ao período de relacionamento entre os dois personagens foi algo proposital, de forma que os estigmas que cercavam a socialite antes do namoro, vista sempre como uma mulher vulgar e sedutora, não fossem um ponto de julgamento para o destino trágico de Ângela.
Para a estudante de design Thallycia Lopes, o filme teve muitos pontos positivos, como a construção do personagem principal e suas diversas camadas. “Eu gostei da forma com a qual a retrataram, sendo uma pessoa complexa, com sentimentos diversos e nuances na personalidade, como qualquer pessoa”, pontuou a estudante.